Designers, precisamos
nos ‘vender’ melhor!
O Design está sendo executado em níveis cada vez mais complexos e, como resultado, sua prática ultrapassou o desenvolvimento de artefatos e passou a abranger projetos de serviços, processos e até de novas experiências. No entanto, parece que muitas empresas ainda não perceberam todas as vantagens do Design. Por isto, fica a pergunta:
Será que sabemos nos “vender” bem?
Eu ia começar a escrever este artigo dizendo o quanto a concepção do Design modificou durante as eras pré e pós-industrial. Também pensei em comentar sobre como as próprias metodologias projetuais modificaram e os Bonsiepes e Baxters deram espaços para novas maneiras de fazer o processo de Design como as propostas por Vijay Kumar (2013) e outros. Finalmente, eu ia terminar o primeiro parágrafo tentando apontar alguma ideia lacradora sobre a capacidade que o Designer tem em gerar a inovação devido ao seu olhar multidisciplinar.
Depois de pensar em tudo isto, eu me perguntei: ‘Por que escrever tudo isto se nós já sabemos a importância do Design e como suas competências podem beneficiar as empresas?’.
Aí eu fiquei pensando… Será que todo mundo sabe mesmo a importância do Design? Ao me questionar sobre isto, ouvi um grande ‘NÃO’ em meu ouvido. Então, eu decidi mudar a minha linha de raciocínio e me questionar: ‘Por que as pessoas não sabem exatamente o que os Designers fazem?’. Ou ainda: ‘Por que muitos ainda possuem uma visão do Design isolado apenas ao desenho?’.
Seguindo neste raciocínio, eu lembrei de uma palestra que a professora Brigite Borja de Mozota fez há alguns anos, onde ela dizia que os Designers não sabiam se ‘vender’.
Confesso que eu achei tal afirmação (e a professora) de uma antipatia imensa, pois ‘onde já se viu falar tamanho absurdo?’ Hoje, anos após esta palestra, e vendo que ainda não temos um consenso da importância do Design para as empresas, eu me pergunto se o que ela falou é, realmente, um absurdo? Ou é aquele tipo de realidade que não queremos ou nem sabemos como enfrentar?
Considerando que no Brasil, a ideia do Design ainda está afastada da estratégia na maioria das organizações brasileiras – e, em alguns casos mais graves, algumas empresas mal sabem o que é Design de fato – começo a achar que realmente não sabemos nos ‘vender’.
Então, como podemos mudar isto? O caminho é árduo e eu acredito que não exista nenhuma fórmula mágica ou receita pré-fixada para resolver este problema. Porém, segundo a própria professora Borja de Mozota, erramos pela linha de raciocínio que utilizamos para nos promover como Designers.
Segundo ela, os Designers tendem a vender apenas os seus outcomes, ou seja, o que sabem fazer e que, geralmente, são projetos gráficos, produtos, serviços, etc. No entanto, não divulgamos as habilidades necessárias para gerar tais outcomes.
Talvez você não tenha percebido, mas existe uma linha bem tênue nesta ideia. De forma geral, o que a professora nos ensina é que precisamos vender menos a ideia de que fazemos produtos, logotipos, projetos gráficos e etc.; para vender mais nossas capacidades de gerar empatia com os usuários; resolver problemas de forma criativa e coerente com a empresa; conduzir processos de experiências de usuários; transformar situações banais em extraordinárias; prototipar e testar ideias de formas simples e rápidas; interpretar desejos e aspirações antes mesmo dos usuários; compreender problemas como oportunidades; e, por aí vai…
Esta forma de ‘vender o Design’ que ela menciona me lembra muito o posicionamento utilizado pela Ideo, considerada uma das empresas de consultoria mais inovadoras do mundo. Segundo David Kelley, CEO da empresa, eles ‘não são especialistas em nada, eles são especialistas em um modelo de pensamento’. Tal afirmação quer dizer que a expertise da empresa não está relacionada à um produto específico, mas à sua capacidade de resolver problemas por meio de projetos orientados pelo Design. Esta concepção permite que a empresa consiga projetar solueções para diferentes setores, como bem mostra seu histórico de sucesso.
Honestamente, eu não sei se isto seria o suficiente para uma mudança radical na concepção dos leigos sobre o que é o Design, mas, certamente, plantaria uma semente diferente em suas mentes.
Além disto, acho que vivemos em um momento favorável para vendermos nossas habilidades, pois o contexto instaurado no mercado é paradoxal: de um lado, existe a necessidade mercadológica de diferenciação para conseguir se manter em ambientes altamente competitivos; e, por outro, há o desconhecimento das potencialidades do Design na condição de ferramenta estratégica capaz de impactar positivamente na competitividade das empresas.
Por isto, mãos à obra! Vamos nos ‘vender direito’ porque há muitos espaços que querem/precisam das habilidades que possuímos!
BORJA DE MOZOTA, B. Design management: using Design to build value and corporate innovation. New York: Allworth Press, 2003.
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KUMAR, V. 101 Design Methods: a structured approach for driving innovation in your organization. New Jersey: John Wiley & Sons, 2013.
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